Impactos do programa de visitas domiciliares Primeira Infância Melhor (PIM)
O programa Primeira Infância Melhor (PIM) é uma intervenção parental de larga escala, implementada em todo o estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. O PIM tem como foco famílias em maior vulnerabilidade social e já atendeu mais de 300.000 crianças e 75.000 gestantes desde 2003. Seu objetivo é aprimorar as interações sensíveis e responsivas entre cuidadores e crianças por meio do envolvimento em atividades lúdicas apropriadas para a idade, juntamente com o fornecimento de informações para cuidados integrais e a facilitação do acesso a serviços de saúde e assistência social. Visitas domiciliares semanais (45–60 minutos) são realizadas por visitadoras treinadas. As visitas domiciliares envolvem ouvir a família, revisar as atividades da semana anterior, realizar uma atividade lúdica destinada a estimular o desenvolvimento infantil e planejar as atividades para a próxima semana. Também são fornecidas informações sobre saúde e nutrição infantil, e encaminhamentos a serviços de saúde ou assistência social são feitos conforme a necessidade.
De forma aninhada ao estudo Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2015, de base populacional e prospectivo, uma série de avaliações quase experimentais investigou os impactos do PIM em contextos de vida real de implementação do programa. Em 2020, dados da coorte de 2015 e do sistema de informação do PIM foram vinculados para identificar mais de 700 crianças da coorte que haviam recebido a intervenção. Grupos de comparação foram criados usando pareamento por escore de propensão, e outras técnicas foram empregadas para aprimorar a inferência causal. A natureza quase experimental dos estudos permitiu a investigação do impacto do PIM sob condições de rotina de implementação.
Os resultados mais relevantes indicaram que:
- A participação no PIM desde a gestação melhorou o desenvolvimento sociocognitivo das crianças aos 4 anos de idade. Foi associada a uma redução de 60% na prevalência de suspeita de atraso no desenvolvimento infantil, em comparação com o grupo controle. No entanto, considerando todas as famílias que receberam o PIM, independentemente do momento de ingresso (inclusive após o nascimento), não houve evidências de um benefício do PIM sobre o desenvolvimento infantil.
- O PIM aumentou em 13% a probabilidade de ter um número adequado de consultas de pré-natal, entre as gestantes que iniciaram a intervenção durante a gravidez. Características da implementação, como maior dosagem entregue e menor rotatividade de visitadoras, potencializaram esse efeito positivo sobre consultas de pré-natal.
- Participar do PIM produziu efeitos positivos na parentalidade, em termos de responsividade e sensibilidade parental, quando as crianças tinham 4 anos de idade. Tais efeitos positivos sobre sensibilidade foram mais fortes para pais de baixa renda.
Outro estudo posterior considerou as melhores variáveis que poderiam ser usadas para uma triagem inicial de gestantes mais vulneráveis para inclusão no PIM. Os níveis de escolaridade materna e escolaridade paterna foram os preditores mais fortes do desenvolvimento infantil e considerados os indicadores mais apropriados para esse propósito.
Em geral, o PIM demonstrou capacidade de reduzir desigualdades no desenvolvimento infantil, particularmente quando as famílias ingressaram durante a gestação. Para melhorar sua baixa cobertura durante a gestação, entre as famílias mais necessitadas, o PIM deverá integrar esforços com a Atenção Primária à Saúde durante o período pré-natal. Para apoiar tal estratégia, uma ferramenta para triagem inicial de gestantes em nível populacional foi desenvolvida (https://ecdprograms.shinyapps.io/ECDPrograms/), com base no número de anos completos de escolaridade materna e paterna. Sua aplicação no trabalho de campo dos municípios deve ser adaptada às necessidades locais, e as decisões acerca do ingresso das famílias requerem informações adicionais sobre os recursos parentais e interações diretas com as famílias para decidir conjuntamente sobre a inclusão.
Silvia Pinto – Ufpel
Publicações
Viegas da Silva E, Hartwig FP, Barros F, et al. Effectiveness of a large-scale home visiting programme (PIM) on early child development in Brazil: quasi-experimental study nested in a birth cohort. BMJ Global Health 2022;7:e007116. doi:10.1136/ bmjgh-2021-007116. PDF
Healy MR, Viegas da Silva E, Lundborg AR, et al. Towards a better understanding of real-world home-visiting programs: a large-scale effectiveness study of parenting mechanisms in Brazil. BMJ Glob Health 024;9:e013787. doi:10.1136/ bmjgh-2023-013787. PDF
Viegas da Silva E, Hartwig FP, Yousafzai A, et al. The effects of a large-scale home visiting programme for child development on use of health services in Brazil. Health Policy and Planning, 39, 2024, 344–354. PDF
Viegas da Silva E, Hartwig FP, Santos TM, et al. Predictors of early child development for screening pregnant women most in need of support in Brazil. J Glob Health 2024;14:04143. PDF
