Lancet: estudo aponta determinantes de saúde associados à criminalidade entre jovens
Vários aspectos da saúde mental e o desenvolvimento neurocognitivo na infância podem aumentar chances de contato com o sistema de justiça entre jovens, segundo estudo publicado na revista The Lancet Child and Adolescent Health de fevereiro.
O artigo de revisão mostra que jovens com histórico de problemas de saúde mental, déficits de desenvolvimento neurológico, dificuldades de aprendizagem ou experiências de adversidades e trauma precoces na infância têm maior risco de envolvimento com o sistema de justiça criminal até os 18 anos de idade. Além disso, fatores sociais, como desigualdades socioeconômicas e situação de marginalização, têm influência tanto como causas como agravantes desses problemas.
“Nosso estudo reforça que programas para garantir o desenvolvimento saudável na infância, e intervenções para tratamento precoce de transtornos de comportamento são estratégias chave para reduzir a criminalidade e melhorar a perspectiva de futuro social”, diz o diretor do DOVE e coautor do estudo, Joseph Murray.
Em comentário sobre o artigo, Murray analisa esses resultados no contexto de países de baixa e média rendas. Experiências iniciais apontam que programas de apoio à primeira infância exigem adaptações, como reduzir custos para acesso, materiais e treinamento e utilizar alternativas à contratação de profissionais especializados. “Na Jamaica, agentes comunitários levaram a intervenção a famílias com crianças vulneráveis, obtendo redução de crimes e melhora do desempenho escolar dos participantes aos 22 anos”, afirma Murray.
O pesquisador também chama a atenção para imensos desafios que determinantes sociais, econômicos e políticos mais amplos do crime impõem a esses países: “Além das estratégias de prevenção primária, é preciso investir em redução das desigualdades, acesso a serviços de saúde e funcionamento das instituições legais”.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 16 da ONU mobiliza nações a reduzir drasticamente a violência e promover o Estado de Direito em todo o mundo. “Para isso, iniciativas internacionais devem direcionar esforços de investimento e pesquisa a regiões da América Latina, Caribe e África Subsaariana, onde estão as mais altas taxas de crimes graves e a violência representa um problema social, de saúde e de justiça criminal tão importante”, conclui Murray.