PIM melhora desenvolvimento infantil de crianças acompanhadas desde a gestação

O programa de visitas domiciliares Primeira Infância Melhor (PIM) traz benefícios para o desenvolvimento sociocognitivo de crianças de famílias vulneráveis, quando o acompanhamento é iniciado ainda durante o período gestacional. É o que mostra um estudo que analisou dados de 1,2 mil crianças acompanhadas desde o nascimento em 2015, na cidade de Pelotas (RS), até os quatro anos de idade, publicado no periódico científico  BMJ Global Health.
Implementado como política pública estadual em 2006, o PIM é um programa intersetorial que funciona com base na visitação a famílias em vulnerabilidade social para prestar apoio ao desenvolvimento de crianças desde a gestação até os seis anos de idade. O contato semanal permite que os visitadores engajem a família e as crianças em atividades de estimulação dos diferentes domínios do desenvolvimento infantil.
“Já está bem consolidado que a primeira infância é primordial para a formação humana. A fase é tão importante que o desenvolvimento adequado nesse período é um dos principais preditores de desempenho escolar, produtividade e saúde física e mental na vida adulta. As consequências são para a vida toda”, diz Eduardo Viegas da Silva, autor do estudo desenvolvido para tese de doutorado em epidemiologia na Universidade Federal de Pelotas.
Para estimar os efeitos do programa sobre o desenvolvimento infantil, o grupo de pesquisa analisou dados do estudo longitudinal iniciado com aproximadamente 4,2 mil crianças nascidas na cidade de Pelotas (RS) no ano de 2015, das quais 601 receberam a intervenção do PIM. A partir da identificação das crianças que participaram do programa, os pesquisadores utilizaram 27 variáveis relacionadas a características do ambiente, das famílias e das crianças para selecionar outras 601 crianças extremamente similares às participantes do programa, mas que não receberam a intervenção, para formar o grupo de comparação. Os pares de 601 crianças foram ainda divididos em duas categorias de acordo com o momento de ingresso no PIM: durante a gestação (121 pares), ou em qualquer momento a partir do nascimento até os quatro anos de idade (480 pares).
Quando estavam com 4 anos, em média, as crianças realizaram testes de avaliação de cinco áreas do neurodesenvolvimento infantil: pessoal-social, adaptativa, motor, cognitiva e comunicativa (versão de rastreamento do Inventário Battelle de Desenvolvimento).
Os resultados mostram que a participação no PIM teve efeito positivo sobre o desenvolvimento infantil no grupo com ingresso durante a gestação (121 pares). A participação no PIM ocasionou uma queda de 60% na proporção de crianças com baixo escore de desenvolvimento em relação ao grupo controle.
“Esse resultado mostra o potencial do programa para reduzir desigualdades na primeira infância, um ponto fundamental para cumprir seu papel de romper o ciclo intergeracional da pobreza”, comenta o pesquisador.
Ao mesmo tempo em que apresenta evidências dos benefícios do PIM para o desenvolvimento infantil, o estudo indica pontos relevantes sobre a implementação do programa para ampliar sua efetividade.
No grupo com ingresso após a gestação, composto de 480 pares de crianças, não houve diferença nos escores de desenvolvimento infantil entre as crianças do programa e as do grupo controle. As conclusões do estudo reforçam a importância de vincular as famílias ao PIM ainda na gestação e de aprimorar a estratégia de inclusão das famílias mais vulneráveis – aquelas que mais precisam do programa.
“Se pensarmos que cerca de metade das crianças do estudo foi incluída após completar o 1º ano de idade, podemos entrever uma perda de oportunidade de apoiar as famílias em um dos períodos mais sensíveis do desenvolvimento”, diz Viegas da Silva.
“O desenho do estudo permitiu avaliar o impacto do PIM em um contexto de implementação de rotina do programa – de vida real. O conhecimento gerado vem para reforçar as diretrizes do PIM, já reconhecidas internacionalmente e modelo para outros programas similares, e contribuir para que ele possa beneficiar um número ainda maior de pessoas”, conclui o autor.

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